Não tenho telhados de vidro mas os meus sapatos são de cristal

Não sendo absolutamente necessário, não deixa de ser expectável que a arte vire o mundo ao contrário.
Mais raro é, contudo, um artista fazê-lo duas vezes de seguida e sem permitir que a segunda volta restabeleça a ordem das coisas, ainda que alteradas pelas sucessivas cambalhotas.
Ora é precisamente essa a operação que Cecíia Costa propõem com "Não tenho telhado de vidro mas os meus sapatos são de cristal".
A primeira das duas travessuras levadas a cabo pela artista consiste na tentativa, previa e conscientemente condenada ao desastre, de trocar as voltas à actuação da gravidade, fingindo que o peso é um pormenor de descartável importância.
A segunda mostra-nos que essa hipótese, quase risível de tão absurda, pode em si conter uma inesperada validade.
Pelo menos no mundo paralelo e de vistas mais arejadas que a arte constrói dentro do outro.

Carlos Correia
Janeiro 2017