Tornei-me um utilizador regular de transportes públicos em setembro de 1995. Durante os três anos seguintes, passei aproximadamente quatrocentas horas a viajar de autocarro. De uma forma natural e num curto espaço de tempo, consegui converter a monotonia destas viagens em momentos férteis, prazerosos. Os ruídos constantes e as oscilações do autocarro embalavam-me numa viagem interior, uma espécie de catarse que gostava de cumprir diariamente, Por diversas vezes, fingi estar a dormir ao ver um conhecido entrar no autocarro, temendo que a minha meditação fosse arruinada por uma qualquer conversa forçada.

Esta exposição resulta de deslocações, transformações, escalas, desgostos e nostalgia. A instalação conta com a peça sonora Sad Trip, que tem como ponto de partida a captação áudio durante uma viagem de autocarro, e com a pintura/relógio Circle.

22 de Junho de 2019
João Marçal